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Vídeo oficial causa polêmica ao tentar vender "Síria idílica" para turistas

11 set 2016 - 10h02
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Praias idílicas e banhistas desfrutando das águas do Mediterrâneo é a imagem que o Ministério de Turismo da Síria mostra do país em um vídeo promocional que causou polêmica por ignorar a trágica realidade de um país devastado pela guerra.

Os responsáveis turísticos alegam, no entanto, que o objetivo desta iniciativa é atrair visitantes sírios e não estrangeiros.

O vídeo, de um minuto e 43 segundos e intitulado "Síria, sempre bonita", foi filmado com drones, que captaram praias de areia dourada abarrotadas de gente e motos aquáticas sulcando o mar, ao ritmo da canção "Faded", de Alan Walker.

As palmeiras e os guardas-sol garantem uma estética de férias à cena, enquanto através do zoom da câmera se descobre uma paisagem verde e uma cidade junto à praia.

Os comentários que circulam pela internet sobre o vídeo vão desde os de que se alegram pela divulgação da beleza da Síria até os de pessoas que o criticam, dada a situação atual do país.

No início desta semana, por exemplo, Tartus, um dos principais destinos turísticos da Síria junto à costa mediterrânea, foi golpeado por um duplo atentado, reivindicado pelo grupo terrorista Estado Islâmico (EI), que deixou 30 mortos e 45 feridos, segundo fontes oficiais.

Longe ficam os tempos de antes da guerra, quando a Síria tinha uma florescente indústria turística, que recebeu 8,5 milhões de visitantes em 2010.

Para estimular o setor, o Ministério do Turismo publicou uma dezena de vídeos promocionais nas ultimas três semanas.

Um deles está dedicado aos locais históricos, como Palmira, cujas ruínas greco-romanas são Patrimônio Mundial da Unesco, e que até março deste ano estava sob domínio do EI, até que o exército a recuperou.

Em outra das gravações aparece um carro de corridas em movimento com a mensagem em inglês "A roda da vida nunca para".

Para o assessor do Ministério do Turismo, Ayman Qahaf, os vídeos promocionais dão uma ideia sobre "a civilização, a história e a beleza do país contra o qual o mundo conspira para destrui-lo".

"Mostram a vontade do povo sírio de viver, não são para atrair turistas estrangeiros para que passem suas férias aqui", declarou Qahaf à Efe.

Qahaf explicou que a política de seu departamento é atrair famílias sírias, principalmente aquelas com receitas limitadas para que desfrutem de férias no litoral a preços razoáveis.

O próprio ministro de Turismo, Bisher Yazedyi, se mostra otimista em sua página pessoal de Facebook, na qual recentemente afirmou que o número de visitantes tinha aumentado 30% na Síria em relação ao ano passado.

Possivelmente, este otimismo de Yazedyi se deve aos recentes avanços do exército sírio, que, em colaboração com as forças russas destacadas no país árabe, arrebataram amplos territórios do EI e outros grupos.

Além disso, alguns turistas estrangeiros aparentemente visitaram o território sírio este ano.

Assim garantiu à Efe Mahmoud Arnut, dono da agência de viagens Mithra, que assegura que até agora em 2016 recebeu 11 grupos de turistas europeus; enquanto em 2015 foram nove.

França, Espanha, Itália, Islândia, Dinamarca, Suécia e Noruega são algumas das nacionalidades dos visitantes que supostamente viajaram a Síria, segundo Arnut, contrariando as recomendações de muitos governos.

"No próximo mês, um grupo de 43 turistas franceses virá à Síria passar uma semana, e antes eu irei a Paris para promover meu belo país", antecipou Arnut, que afirmou que no ano passado ele mesmo esteve em Estrasburgo para falar ao parlamento europeu sobre a Síria.

Os turistas que chegam à Síria através da agência de Arnut visitam Damasco, Homs, Hama, o Krak dos Cavaleiros, Tartus e Latakia, assim como lugares religiosos em territórios seguros, a maioria perto da capital, como Malula e Seidnaya.

Apesar de muitas companhias aéreas comerciais terem deixado de operar até Damasco após o início da guerra em março de 2011, ainda há voos diretos de países como Líbano, Egito, Argélia, Sudão, Jordânia, Rússia e Irã, entre outros.

Apesar das tentativas das autoridades turísticas, a Síria, após cinco anos de guerra, deixou de ser um dos países mais liberais da região, com uma cena cultural, gastronômica e de lazer crescentes, para se tornar um lugar em ruínas com mais de 280 mil mortos.

EFE   
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