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Um raro olhar sobre as riquezas da Roma antiga

12 jul 2009 - 19h17
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Por décadas, escavações no Fórum Romano e no Monte Palatino desvendaram grandes salões e residências imperiais com afrescos extravagantes e graciosos ornamentos em relevo. Normalmente, após o alarde midiático inicial que em geral acompanha tais descobertas e sua restauração, muitas dessas antigas habitações retornam à obscuridade da qual emergiram. Não existem equipes suficientes para monitorar esses importantes sítios arqueológicos e, assim, eles ficam inacessíveis ao público.

A iniciativa de melhorar a monitoração permitirá visitas noturnas ao Coliseu
A iniciativa de melhorar a monitoração permitirá visitas noturnas ao Coliseu
Foto: Getty Images


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Mas neste verão da região - exceto em agosto, quando o calor é forte demais -, a autoridade arqueológica de Roma realocou recursos para manter equipes em cinco monumentos no coração da antiga Roma, normalmente fechados.

A iniciativa também permitirá visitas noturnas ao Coliseu e oferecerá concertos gratuitos nos museus que abrigam a coleção estatal de arte romana antiga após seus horários de expediente.

Como qualquer instituição de arte em um período de instabilidade financeira, os principais sítios arqueológicos da Itália tiveram que lidar com cortes financeiros significativos que afetaram a acessibilidade e novas escavações. A abertura ao público é a resposta da autoridade arqueológica para tais infortúnios orçamentários.

"A falta de guardas é um problema imenso que realmente precisa ser resolvido", disse Maria Antonietta Tomei, diretora do Palatino e do Fórum Romano, enquanto caminhava resoluta pelo local. Em um bom dia, explicou, apenas um quarto dos aproximadamente 80 seguranças designados para a área estão em serviço (férias, doenças e folgas são as causas das ausências), "e isso não é o bastante". Mas não há dinheiro para mais contratações.

"Até quando restauramos edifícios, normalmente só conseguimos mantê-los abertos por alguns dias, mesmo se as restaurações foram demoradas, complexas e caras", ela disse. "Depois, apenas os abrimos para acadêmicos."

A visita a sítios antes fechados foi possível graças ao dinheiro público normalmente reservado para benefícios de funcionários e projetos especiais, disse Tomei. Os normalmente briguentos sindicatos concordaram com a ação.

Entre as atrações que aguardam visitantes está a Casa de Livia, outrora o lar da esposa do imperador Augusto. A estrutura de dois andares esteve fechada por mais de duas décadas, mas permanecerá aberta todas as terças-feiras até outubro.

Por parâmetros imperiais posteriores, a casa, com painéis de motivos arquitetônicos e adornos florais, pode até ser descrita como modesta. "Augusto não apreciava o desperdício", disse Tomei. "Ele viveu nos mesmos aposentos por 40 anos." (Na terça-feira, um visitante italiano debochou, "Diferente do atual chefe de governo da Itália", se referindo ao primeiro-ministro Silvio Berlusconi, cuja suposta farra em seu palácio residencial - completo com um modelo de vulcão em erupção - na ilha de Sardenha foi assunto de tablóides e jornais tradicionais locais por semanas.)

O Coliseu, o Palatino e o Fórum Romano, que podem ser visitados com um único ingresso, são as maiores atrações turísticas da Itália, sendo que em 2008 quase cinco milhões de visitantes trouxeram mais de US$ 50 milhões. Mas a crise financeira teve efeito sobre o turismo. A taxa de ocupação de hotéis diminuiu quase 8% em março em comparação ao ano anterior, de acordo com as estatísticas mais recentes do escritório municipal de turismo de Roma. (Ainda é cedo para saber se os números do Coliseu mudaram.)

Novos monumentos para visitar podem ser uma forma de atrair turistas. Por exemplo, enterrados sob as ruínas do Domus Flavia, erguido por Nero e Domiciano, estão os destroços da chamada Casa dos Grifos, uma das residências mais importantes da Roma republicana. Escavada em 1912, é praticamente desconhecida fora dos círculos acadêmicos e também estará aberta às terças-feiras.

Por trás de suas portas originais de bronze maciço, o erroneamente batizado Templo de Rômulo (foi provavelmente o Templo de Júpiter Stator), no Fórum Romano, mostra evidências do gradual sincretismo entre religiões pagãs e o usurpador cristão. Como o chamado Oratório dos 40 Mártires, decorado com afrescos do século oitavo de soldados que pereceram em águas geladas na Armênia, o templo está aberto às sextas-feiras.

Rita Paris, diretora do Palazzo Massimo, um dos museus envolvidos na iniciativa, disse esperar que a combinação de entrada gratuita, música e visitas no final da tarde atrairia um novo público. "Precisamos levar o museu às ruas e trazer as pessoas das ruas para dentro do museu", disse em entrevista telefônica. "As pessoas precisam parar de pensar nos museus como instituições enfadonhas."

Uma atração relativamente moderna é a Loggia Mattei, que data da Renascença, quando algumas famílias aristocráticas colonizaram o Palatino com jardins panorâmicos e pequenas villas, muitas vezes absorvendo ruínas romanas. Afrescos de um salão dedicado ao culto de Ísis, a deusa egípcia, foram levados ao local de outro lugar do Palatino. A galeria, construída no século 16, ficou aberta por um breve período em 1997, disse Tomei, "mas mesmo na época não tínhamos zeladores suficientes. Desde então, ela caiu no esquecimento".

Os afrescos antigos convivem com a galeria mais recente, que foi pintada com cenas mitológicas pelo ateliê de Baldassare Peruzzi. A decoração inclui 12 círculos com signos do Zodíaco, painéis que pertencem ao Metropolitan Museum of Art de Nova York. Eles estão no local há quase 20 anos devido a um empréstimo de longo prazo e, como o prazo expirou, o Ministério da Cultura italiano e o Met estão discutindo o futuro dos painéis, segundo Tomei. Harold Holzer, porta-voz do Met, disse que a instituição não poderia comentar sobre qualquer discussão.

The New York Times
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