PUBLICIDADE

Havia uma mesquita no meio do caminho...

19 ago 2016 - 10h08
Compartilhar
Exibir comentários

Um dos hotéis mais luxuosos da cidade marroquina de Casablanca, o Four Seasons Hotel Casablanca, está há mais de seis meses tentando conseguir permissão para a venda de bebida alcoólica, dificultada por conta de sua proximidade com uma mesquita financiada pela Arábia Saudita.

As negociações com as autoridades marroquinas estão em andamento, mas não existem perspectivas de solução imediata e, por isso, a alta temporada no hotel de frente para o mar pode estar ameaçada.

Fontes do Four Seasons dizem que não quantificaram as perdas que representa para o hotel e seus três restaurantes não poder vender bebidas alcoólicas, mas disseram em declaração à Agência Efe que "tem um impacto inegável sobre a satisfação dos clientes do hotel, especialmente entre a clientela internacional".

O hotel é propriedade do grupo espanhol Inveravante que investiu mais de 200 milhões de euros (quase R$ 700 milhões) no projeto, mas a gestão é feita pela companhia Four Seasons, que possui outra hospedagem com o mesmo nome em Marrakech, mas essa com liberação para a venda de álcool.

Inaugurado em grande estilo em 27 de janeiro, com a presença do ministro de Turismo do Marrocos, Lahcen Haddad, o Four Seasons Casablanca oferecia "três opções de jantar e bebidas com vistas para o oceano", como dizia então a nota de imprensa. O hotel ainda não tinha a aguardada licença de álcool, mas as autoridades prometeram que ela chegaria dentro de alguns dias.

Passaram dias, semanas, meses e a autorização não apareceu. A direção do hotel soube extraoficialmente que o motivo da demora era a proximidade com a Mesquita Abdulaziz Ibn Saud e a fundação de mesmo nome, construídas e financiadas pela Arábia Saudita. Foi desse complexo que, aparentemente, surgiu a oposição a que o Four Seasons comercializasse bebidas alcoólicas.

Um decreto marroquino de 1967, e ainda vigente, estipula no artigo 4 que é "proibido explorar um ponto de bebida (alcoólica) nas proximidades de edifícios religiosos, cemitérios, estabelecimentos militares, médicos ou escolas, e em geral na proximidade de todo lugar onde se deve respeito e decência".

Paradoxalmente a medida parece ser aplicada somente ao Four Seasons: a falta de licença - disseram as fontes do hotel - "afeta nosso rendimento porque todos os concorrentes, inclusive os mais próximos, servem bebidas alcoólicas".

De fato, um hotel de quatro estrelas situado à mesma distância que o Four Seasons da mesquita vende todo tipo de bebidas sem qualquer restrição.

No Marrocos, os hotéis de luxo são, em geral, frequentados por uma clientela de alto poder aquisitivo e com um estilo de vida "europeu", incluindo o consumo de álcool durante jantares e festas.

Quando os problemas com a licença foram divulgados em maio, os interlocutores disseram aos gerentes do hotel que o problema seria resolvido depois do Ramadã, já que durante o mês sagrado é proibido vender álcool.

O mês de jejum terminou em 6 de julho, em plena alta temporada, um mês se passou e o cenário continua igual. Contudo, a rede hoteleira não quer expor seus problemas e a Inveravante está procurando outra forma de resolvê-los.

A embaixada da Espanha, por exemplo, tentou discretas negociações para solucionar a questão em nível político, mas até o momento não teve sucesso. Aparentemente, o caso não tem a ver com o governo municipal de Casablanca, liderado pelo islamita Partido Justiça e Desenvolvimento (PJD).

O próprio presidente do governo, Abdelilah Benkirane, disse recentemente que os eleitores não o escolheram "para mudar a forma como as pessoas vivem, comem, se vestem ou se divertem".

Neste caso, a negativa à licença para a venda de álcool vem de uma instância mais poderosa do que o próprio governo: a Arábia Saudita, um aliado que o Marrocos não quer perder de modo algum.

EFE   
Compartilhar
Publicidade
Publicidade