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Bairros pobres de Lima viram atração turística para estrangeiros

25 jul 2016 - 06h12
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Enquanto a maior parte dos turistas estrangeiros que visita Lima passeia pelo centro histórico, compra em luxuosos shoppings e come nos restaurantes da moda, alguns preferem conhecer o "lado oculto" da capital do Peru: os bairros pobres.

O "Shanty Town Tour" (tour por favelas) leva os turistas a Villa El Salvador, o bairro mais pobre de Lima, para fazer compras em suas lojas populares, subir as inclinadas e estreitas escadas nas colinas superpovoadas, e contemplar uma paisagem formada por casas precárias que se perdem no horizonte.

Esse cenário, produto da grande migração dos Andes que chegou a Lima há 50 anos, leva os visitantes caminharem por uma caótica geografia urbana erguida sobre um deserto que espalha muita poeira no verão e coberto pelo nevoeiro no inverno.

Os turistas pagam US$ 45 (cerca de R$ 150) por um passeio de três horas pela Villa El Salvador, onde entre 35,5% e 47,7% dos moradores vivem abaixo da linha da pobreza, vivendo com menos de US$ 90 (R$ 300) por mês, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística e Informática do Peru.

O responsável pela agência de turismo Haku Tours, Edwin Rojas, afirmou à Agência Efe que se trata de uma "experiência antropológica" porque permite aos turistas "conhecer pessoas em seu ambiente real".

As visitas tiveram início em 2009, segundo Rojas, porque muitos estrangeiros que vinham ao Peru dispostos a conhecer os costumes locais só visitavam Miraflores, um dos bairros mais ricos de Lima, e as ruínas incas de Machu Picchu.

"Quero mostrar a realidade do Peru, e os moradores gostaram da ideia desde o início", declarou Rojas, que repassou parte do dinheiro obtido pelas visitas para a construção de três refeitórios populares e duas creches, além de doar roupas periodicamente.

Uma das creches, na comunidade de Bello Horizonte, ainda está em construção. A presidente da associação de moradores do local, Asencia Turama, disse que o projeto está demorando a ficar pronto porque é feito por voluntários, mas será de grande ajuda, porque antes as mães deixavam as crianças trancadas em casa.

A subsecretária da comunidade vizinha Praderas de Villa, María Nolle, afirmou que as doações permitiram a reforma de um refeitório popular. Agora, os moradores estão tentando construir um novo local para o programa governamental "Cuna Más", que distribui alimentos a 55 crianças da região.

Karina Morales, uma açougueira do mercado popular da região, afirmou à Efe que todas as semanas chegam a sua barraca turistas de Tailândia, Japão, Alemanha, Estados Unidos, Índia e Nova Zelândia, entre outros países, e comentou que gosta da interação, porque, dessa forma, os visitantes conhecem a cultura local.

Entre os turistas estava o italiano Paolo Cellamare, que disse à Efe que gosta de fazer esse tipo de passeio quando viaja à América Latina. "É uma boa maneira de visitar e ver muitas coisas que não se veria se você não conhece alguém da região", afirmou.

"No Rio de Janeiro, visitei a favela da Rocinha, e é similar a essa parte de Lima. É uma coisa que não se vê em meu país", relatou.

O americano Richard Macrafic, que fez o tour acompanhado de sua esposa, Cindy, afirmou que levou a impressão de que o Peru é como "grande parte dos países, onde a maior parte do dinheiro é produzida e consumida por um número pequeno de pessoas".

"Precisamos dividi-lo melhor. Essas pessoas precisam de algo melhor porque são e representam a maioria da população", destacou.

EFE   
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