PUBLICIDADE

A complicada volta para casa dos moradores de Palmira, na Síria

16 abr 2016 - 06h56
Compartilhar
Exibir comentários

Palmira, na Síria, se tornou uma cidade fantasma, onde a destruição vive comodamente e seus habitantes enxergam como distante a possibilidade de retornar a suas casas, ainda repletas de destroços que comprovam que o grupo terrorista Estado Islâmico (EI) passou por lá.

"Minha casa está destruída", afirmou à Agência Efe Maysa Hamudi, que voltou pela primeira vez à cidade do deserto central da Síria desde que fugiu após a invasão dos radicais em maio do ano passado.

Ela veio de ônibus junto com um grupo de moradores, que foram a Homs, depois que Palmira foi tomada pelo EI, que controlou a cidade até ser expulso pelo exército sírio há pouco mais de duas semanas.

O panorama é desolador e a população tenta recolher o pouco que sobrou antes de retornar a Homs, já que, por enquanto, Palmira é inabitável e não possui serviços básicos como água e energia elétrica.

Maysa lembrou com tristeza os três dias em que viveu, ao lado do marido e dos três filhos, sob o "califado" antes de escapar de Palmira.

"São asquerosos. Ficamos três dias trancados em casa. Eles faziam buscas e iam perguntando se havia algum membro das forças de segurança ou do exército", recordou.

Para possibilitar o retorno dos moradores, soldados sírios e russos trabalham na desativação de minas e bombas, que os jihadistas deixaram como "presente" envenenado. A cada cinco minutos a explosão de alguma delas é ouvida na parte monumental da cidade, aonde o esquadrão antibombas russo concentra suas operações.

Os sírios limpam das bombas a parte moderna de Palmira, cujos céus de vez em quando são rasgados por aviões de guerra que se dirigem ao leste, provavelmente na direção de Al Sujna, a 70 quilômetros de lá e ainda sob o domínio do EI.

Apesar de Palmira ter ficado livre de jihadistas, seu rastro ainda não desapareceu. Em uma esquina próxima ao museu, carrinhos de bebês, que os terroristas usavam para transportar munição, se amontoam. Alguns passos depois, livros didáticos do EI ainda estão espalhados.

Ilustrações de pessoas com os rostos apagados e de uma vaca sem as mamas, ou um livro de alfabetização com termos como "kfar" (apóstata) exemplificam a ideologia que os radicais passam as crianças.

O coronel Samir, do exército sírio, reúne todo esse material nos edifícios de Palmira. O militar está no leste de Homs há meses e está empenhado na luta contra o EI.

"Combatemos mais de quatro mil terroristas na batalha de Palmira", declarou à Efe o oficial, ressaltando que os extremistas utilizavam como tática os atentados e os disparos de franco-atiradores para evitar o avanço dos soldados governamentais, que tinham o respaldo da aviação russa.

Nos trabalhos de reconstrução da cidade, o exército sírio descobriu túneis e trincheiras cavadas pelo EI em morros próximos, assim como explosivos escondidos em pedras.

O coronel mostra os porões onde os terroristas dormiam para se proteger dos bombardeios. O caos reina nessas vias subterrâneas, onde cobertores embolados se misturam com objetos como um relógio de parede e uma fotografia da Caaba, edificação da cidade santa muçulmana de Meca (Arábia Saudita), onde os fiéis localizam o centro do universo.

Na porta de outro imóvel, um tapete se estende até a rua. "Aqui vivia um dirigente do 'Daesh' (acrônimo em árabe de Estado Islâmico)", apontou o coronel, antes de mostrar outro edifício à direita onde havia um quartel dos extremistas.

O Museu de Palmira também não escapou da destruição e lá agora trabalham especialistas sírios e poloneses que avaliam os danos. O diretor da Autoridade Nacional de Museus e Antiguidades da Síria, Ahmed al Dib, explicou à Efe que há dez dias a equipe tenta documentar os estragos, apesar de ter pontos onde eles ainda não podem chegar por conta da existência de minas e artefatos.

A cidade, que já foi ponto turístico da Síria, tenta aos poucos voltar à normalidade, apesar de tudo isso ser mais difícil do que parece.

EFE   
Compartilhar
Publicidade
Publicidade