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Vidente destaca o equilíbrio da vida bem temperada

Na banca dos temperos, entre pimentas e cominhos, alguns segredos de espiritualidade

18 fev 2016 - 13h02
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Foto: iStock

Na dimensão da espiritualidade grandeza não é tamanho, mas completude – questão de escala e proporcionalidade. Grande é quem, na totalidade possível, é inteiro.

Aquele que, em situação modesta, divide seu único pão (percebendo que a verdade de sua fome não é maior do que a metade restante), é mais pródigo do que um outro que, em situação melhor, possuidor de uma dúzia, doa um pão. Agora, se fossem seis dos doze pães seria melhor. Todavia, pense nisso, a verdade das coisas esotéricas indicaria onze pães e meio.

Reflito sobre essa questão ao lembrar do amigo A. Havia nascido no interior profundo do Piauí, região muito carente. Ali, na “roça”, nenhum sapato, um pouco de feijão, rapadura e um tiquinho de carne de sol era tudo que se podia almejar.

Em casa eram muitos, muitas bocas. Quando ficou maiorzinho, beirando treze anos, recebeu o abraço do pai, o beijo da mãe e tocou para a cidade. Desde então, veio remando forte vida adentro. Teresina, Salvador e, finalmente, São Paulo: “Terra das oportunidades”.

Ocupações, trabalhos, empregos. Com seu sempre cativante sorriso, abraçou tantos e quantos: lixeiro, jardineiro, caseiro, vendedor e, aos vinte anos, a vocação maior, feirante – nunca mais abandonou.

A banca dos temperos, com profusão de cheiros e gostos, foi a pedra fundamental. Cresceu. Como ele dizia: “Quem tem competência – e carinho – se estabelece”, rindo a seguir para iluminar o próprio comentário.

Criou família. A esposa, dando a luz ao primeiro filho – que seria único – teve um problema e precisou tirar o útero. A. encarou com aquele astral e força elevada: “Tenho um filho só, mas amo como se fossem dez”.

O menino cresceu e, como domingo após domingo A. me posicionava, começou a “dar um trabalhão”. As coisas ficaram complicadas, encrencadas. O filho reclamava porque não era milionário, não tinha piscina em casa.

Se desdobrava. O menino bem vestido, bom quarto (suíte, tela plana, eletrônicos), boa mesa na copa, boa geladeira na cozinha (com as guloseimas de mãe), mesada para o lanche na faculdade, graninha para passeios no final de semana e férias. Mesmo assim, reclamação sem fim.

Quando o pai pagou férias numa praia em Alagoas, queria Cancún. Quando ganhou o carrinho – zero, ajeitado – queria um três vezes o preço. Que inferno.

Como sempre, atento às coisas, A. tirava de letra. “Ora, admiro mais a pulga que pula mais de cem vezes sua altura do que o leopardo que, saltando dez metros não chegou nem a oito vezes seu tamanho”.

Cheio de inteligência, pesando meu pacotinho de páprica, olhou fundo nos meus olhos e, como fazia costumeiramente, riu envolto pelos seus temperos – para a boca, a língua e a vida...

Quer saber mais sobre o trabalho de Marina Gold ou entrar em contato com ela, clique aqui.

Fonte: Especial para Terra
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