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Tradicionais redes de Fort Cochin pescam turistas em águas sem peixes

19 out 2015 - 10h23
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As tradicionais e peculiares redes de pesca chinesas do litoral de Fort Cochin, no sul da Índia, foram durante séculos a principal fonte de receita para pescadores que hoje se resignam a ser um simples exemplar turístico, por causa da falta de ajuda oficial e da poluição das águas.

Há mais de 500 anos, quando o descobridor português Vasco da Gama tocou o litoral de Fort Cochin para terminar morrendo ali em 1524, na baía da cidade havia as "cheena vala", como se chama em mayali esta particular estrutura pesqueira.

Com dez metros de comprimento, as 'cheena vala' se estendem desde a orla marítima até a margem do mar, sustentadas por duas grandes vigas que caem na água com um sistema de cordas e contrapesos pelo qual são lançadas e baixadas.

No entanto, já não há o que pescar.

"Em meus 71 anos nunca vi as redes tão paradas como agora", comentou Michael, capitão de uma das 12 redes da margem, que atualmente permanece parada, à Agência Efe.

Sentados em um barraco de madeira, Michael e outros cinco pescadores esperam que, faltando peixes, os turistas se interessem pela arte de elevar as redes e os deixem algum dinheiro, em troca de explicações e fotos.

Ao ritmo da canção "Hei jala" que entoam para levar o ritmo de içar as redes atirando das cordas, os turistas sorriem enquanto participam do ritual de captura.

No entanto, sob a rede de Michael e outras tantas que a acompanham, o lixo se acumula há anos em uma mistura de peixe podre e vegetação que a água arrasta dos canais interiores de água doce da cidade que desembocam no mar Arábico.

A cidade continua a atrair turistas, apesar da deterioração de um de seus bens mais prezados e da falta de ajuda do governo local para limpar uma área "contaminada e cheia de lixo" que a prefeitura não se responsabiliza por cuidar.

"A Corporação de Cochin é responsável pela manutenção da cidade, mas a área onde estão as redes não faz parte de nosso trabalho, é jurisdição do Porto de Kochi", argumentou o subinspetor local, C. Mohanan.

A administração afirma que eles limpam toda a cidade, mas que "exatamente a área das redes de pesca chinesas", ou seja, os dez metros de areia entre o mar e a orla marítima, não são de sua responsabilidade.

"O trabalho de limpeza da região onde ficam as redes chinesas é responsabilidade de outro organismo, e eles não vêm limpar há um mês, não sei por quê", dîsse à Efe um inspetor de Saúde da Corporação de Cochin.

Também não ajuda à conservação do entorno a procissão de grandes embarcações de carga que cruzam a baía em direção ao Terminal Internacional de Carga e a uma refinaria que ficam na margem oposta.

Os pescadores denunciaram o abandono das autoridades locais, mas continuam a ter esperança de que os tempos de bonança voltarão no começo do ano que vem.

Todos riem quando falam da boa época de pesca, entre janeiro e fevereiro, quando os peixes gato e tigre emergem de água ao içarem as redes.

"Quando há uma boa captura, algum de nós vai ao bar e podemos comer arroz nesse dia", contou sorridente Franglin, pescador com 25 anos de experiência nas redes, que se queixa de não ter nada agora para se alimentar.

A falta de pesca e a passagem do tempo, que não perdoam nem a arcaica engenharia das redes nem os pescadores, muitos deles com mais de 50 anos, começam a ditar a sentença do futuro desta tradição.

As novas gerações já decidiram que não querem seguir o caminho de seus pais e buscam um futuro melhor longe de um negócio que já não é frutífero e que ainda existe mais por costume do que por produtividade.

"Nossos filhos vão à escola e não querem ser pescadores, buscam trabalhos melhores", desabafou um dos pescadores, ciente de que é questão de tempo para que sua rede não volte a ser tirada da água.

EFE   
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