PUBLICIDADE

Caribe colombiano se vê ameaçado por epidemia de chicungunha

25 jan 2015 - 10h29
Compartilhar

O vírus do chicungunha, original da África e provocado pela picada de mosquitos, se estendeu pelo turístico Caribe colombiano, onde as autoridades de saúde alertam para o risco de uma epidemia de grande impacto se não forem adotadas medidas urgentes.

"O chicungunha vai contaminar milhões de colombianos se não forem tomadas ações", alertou em entrevista à Agência Efe o epidemiologista e subdiretor científico do Hospital Infantil Napoleão Franco Pareja de Cartagena de Indias, Hernando Pinzón.

O próprio ministro da Saúde, Alejandro Gaviria, disse ano passado que mais de 700 mil colombianos podem ser infectados, número que os especialistas acreditam que poderia ser significativamente maior.

O chicungunha, que em língua tanzaniana significa "se contorcer de dor", chegou ao Caribe em 2014 e se estendeu das Antilhas até a costa da Venezuela e da Colômbia, onde hoje já se fala de epidemia.

Segundo o Instituto Nacional de Saúde da Colômbia, no final de 2014 haviam sido confirmados 96.433 casos de chicungunha.

O departamento com maior número de casos é Bolívar, com 29.244. A capital, Cartagena das Índias, recebe nesta época do ano dezenas de milhares de turistas que buscam um clima tropical mais fresco e desfrutam da grande oferta cultural desta cidade colonial, declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco.

A Região Caribe, que agrupa os departamentos de Bolívar, Sucre, Magdalena, La Guajira, Atlântico e Córdoba, e possui cidades de grande atração turística como Cartagena, Santa Marta e o Parque Nacional Tayrona, soma 66.118 infectados que correspondem a 68,56% do total de casos em nível nacional.

No entanto, a diretora do Departamento Administrativo de Saúde de Cartagena, Martha Rodríguez Otálora, estimou à Agência Efe, que "para cada pessoa que vai a um centro de saúde há dois mais que têm a doença, mas não vão ao médico".

Esta projeção, que para muitos é conservadora, indicaria que há 289.299 infectados na Colômbia.

"Não recorrem aos serviços de saúde porque sabem que vão receitar somente paracetamol", acrescentou Pinzón.

Precisamente tanto o paracetamol, como os repelentes de insetos, estão esgotados em lojas não só das localidades afetadas, mas também em Bogotá, a capital colombiana, onde o chicungunha não chegou por estar localizada a 2.600 metros de altura.

"São casos vários, explosivos e perigosos", insistiu o especialista do Hospital Infantil, ao considerar que as medidas adotadas foram "reativas quando deviam ser preventivas".

Em Cartagena começaram as fumigações e funcionários estão indo a bairros periféricos para informar sobre os sintomas da doença e explicar como evitar a propagação de mosquitos em água parada.

Mesmo assim, uma enfermeira do populoso bairro Nelson Mandela disse à Efe que apesar de "a princípio as autoridades terem ido ao bairro fazer campanhas, não retornaram".

Os primeiros casos de chicungunha nessa área foram detectados em San Joaquín, um distrito do município de Mahátes, onde também está San Basílio de Palanque, de população negra e reconhecido por ser o primeiro povo liberto da América.

"Ali vimos que todo a cidade tinha ou tinha tido chicungunha, os camponeses que tinham tido o vírus fazia um ou dois meses continuavam incapazes de trabalhar", informou Pinzón.

Embora não tenham sido registradas mortes pela doença na Colômbia, o especialista explicou que o quadro clínico é "severo" para os recém-nascidos porque afeta fígado, coração e sistema nervoso central, semelhante ao que se chama de sepse neonatal.

Nas crianças, adolescentes e jovens, o vírus normalmente apresenta um quadro leve, enquanto em quem tem mais de 40 anos leva à incapacitação e pode haver complicações.

A doença tem três fases: aguda, que dura entre dois e sete dias, subaguda que pode durar três meses e crônica, que se estende por até três anos. Neste último caso se manifesta com dores constantes nas articulações.

Pinzón denunciou que em Cartagena, a cidade colombiana que mais recebe turistas, não tem se advertido para o risco da doença; mas Rodríguez Otárola, funcionária de Saúde, defendeu que um alerta teria "impacto econômico" na cidade.

Mais custoso será enfrentar uma epidemia porque, segundo o diretor do Grupo de Pesquisa em Economia da Saúde da Universidade de Cartagena, Nelson Alvis Guzmán, o atendimento médico "causaria um grande impacto".

Segundo ele, o custo médio do atendimento a crianças infectadas é de US$ 517,50 (R$ 1.357) e o de adultos "é semelhante ou superior".

EFE   
Compartilhar
Publicidade