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Vidente explica como um cão pode nos ajudar a superar dores

25 jan 2015 - 11h37
(atualizado às 11h37)
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Foto: iStock

Os olhos eram leitosos, esbranquiçados como duas bolinhas de gude nubladas. Ali na porta do Pet Shop o cão, pequeno, afundado na cegueira, orelhas enormes, tremendo, era, o retrato da fragilidade mais desvalida.

Ele, corpulento, enorme, bonachão, completava 60 anos. Tinha passado, bem recentemente, por uma perda dolorosa, um corte abrupto que o separou do amor de uma vida inteira, décadas. Esforçando-se para ficar acima da tristeza, abraçava motivações auxiliares para seguir adiante.

Assim encontraram-se, metidos, cada um de uma forma, em situação de vazio. Vendo sem ser visto, agachou e estendeu a mão diante do bichinho. Este, percebendo a presença, passou a tremer ainda mais. O rabinho, pequeno como um palito de dente, “trrr-trrr”, girava enlouquecido como uma bússola desordenada, o retrato perfeito da confusão que reinava naqueles dois destinos.

Devagar, muito amedrontadamente, o cãozinho farejou a novidade que se colocou há centímetros de seu poderoso nariz. Juntou toda a coragem, “plic-plic”, deu dois passinhos e, correndo tremendos riscos, encostou a bolinha preta e úmida, só um tiquinho maior que uma ervilha, naquela mão.

Como ele, desejoso de entender tanta coisa, espichou a língua, sempre munido do cuidado discreto daqueles que aprenderam duras lições pela vida afora, e se pôs a lamber a ponta do dedo indicador que retribuiu o contato, coçando o focinho.

Pronto. Com a rapidez dos reencontros de almas, estavam íntimos outra vez. Nome já tinha: Palito. Passou a mão por baixo do corpinho. Temendo que a pele fina como a de um passarinho arrebentasse com a pressão acelerada do coração que galopava cheio de um receio compreensível, ergueu e aninhou junto de si a bolinha cor de caramelo.

Gosto de encontra-los, unidos há anos. Palito é tranquilo. Não carrega nada daquele temperamento agitado e pulante dos cães pequeninhos. Seu dono diz alegre que ele é um “São Bernardo em miniatura, que só aparece ao microscópio”.

Quando nos cruzamos pelas ruas, rápida mesura, às vezes uma brincadeira e eles seguem. Fico parada, acompanho a dupla porque me agrada, principalmente, vê-los assim, de costas para mim, afastando-se.

Ele retumbante, seu sapato de sola de borracha do tamanho de um skate. O cão, “plic-plic” nas patinhas finas como pés de galinha. A coleira, tênue elo, cordão umbilical refeito ao ligar dois seres que encontraram caquinhos seus perdidos nessa vastidão de mundo.

Quer saber mais sobre o trabalho de Marina Gold ou entrar em contato com ela, clique aqui.

Fonte: Especial para Terra
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