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Finados: passe o dia com pessoas queridas, aconselha vidente

Data deve ser usada também para recordar das alegrias e momentos de paz

1 nov 2015 - 19h39
(atualizado às 19h59)
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Foto: iStock

Finados é dia de recolhimento, contrição e lembrança. Oportunidade privilegiada para, nas saudades de tantos, encontrar pessoas queridas.

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Minha mãe lembrava que os trens deixavam de apitar, silêncio. Meu pai garantia que sempre chovia na data, cinza. Tanta gente amada desfilando sem agitação, purgadas de qualquer mesquinharia. Cacos colados, feridas curadas, sofrimentos dissipados.

Todo ano a experiência se repete: delineio com nitidez a tênue linha divisória entre eles e nós, lá e aqui. Película diáfana, textura frágil, a casquinha de uma bolha de sabão.

Apenas um toque, leve, sutil, e... póc! As gotículas, minúsculos globinhos aquáticos, verdadeiro pólen líquido do tamanho da cabeça de um alfinete, refratam luz para minhas memórias.

Estamos todos felizes. Eu mais feliz com a felicidade deles do que com a minha. Nossas felicidades se entrelaçam, se confundem, chego a perder o fôlego. 

Agora tudo é agradável. Uma reconfortante sensação de paz e plenitude desce como uma neblina. Pombas levantam voo, lenços sacodem o ar, as portas se abrem transparentes, uma clareza de nítido cristal envolve coisas e pessoas.

Comovida, depois de um punhado de abraços, localizo, lá no fundo do grupo, quem eu mais queria. Aproximo-me. Caladas, sem ousar qualquer palavra que comprometeria aquele momento perfeito, ficamos frente a frente, rostos bem próximos.

Olho no fundo dos seus olhos e encontro, bem lá dentro, o quarto da minha infância. O dia começa a raiar, uma luz suave banha o chão. Lá fora, passarinhos cantam levemente. As gavetas abertas exalam um aroma gostoso de lavanda, o mesmo do lençol que me aconchega.

Cuidadosamente, passinhos miúdos, ela entra. Ao perceber que estou acordada, sorri. Caminha até a cama, estende a mão direita oferecendo um copo de leite muito branquinho.

Quando a ponta dos meus dedos toca o vidro morno, a cena se dissipa. Estou novamente diante dela. Como se fôssemos espelhos uma da outra, uma lágrima escorre dos nossos olhos: misteriosa fonte e foz de todos os meus rios, contém para mim os segredos do agora e de todo sempre.  

Quer saber mais sobre o trabalho de Marina Gold ou entrar em contato com ela, clique aqui.

Fonte: Especial para Terra
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