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Como comiam os romanos: a história da primeira globalização gastronômica

20 jul 2015 - 11h55
(atualizado às 11h55)
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O Império Romano chegou a contar com mais de 50 milhões de habitantes, e para sua alimentação foi essencial o incentivo a uma política de expansão agrícola que constituiu a considerada primeira globalização do consumo da história.

O museu "dell'Ara Pacis" da capital italiana recebe até o dia 15 de novembro a mostra "Nutrir o Império. Histórias da alimentação em Roma e Pompéia", um percurso composto por raridades arqueológicas e que conta com uma ampla variedade de recursos multimídia.

Tudo para dar resposta a questões como: o que comiam os antigos romanos? Quais eram seus costumes gastronômicos? Como transportavam suas provisões de outras regiões ou as conservavam até sua chegada à então 'capital do mundo'?

No período imperial que separou Augusto e Constantino (27 a.C - 337 d.C), Roma se transformou em uma metrópole de cerca de 1 milhão de habitantes, um número que nenhuma outra cidade voltaria a alcançar até quase dois milênios depois, na Revolução Industrial.

Assim, Roma exercia a função de centro nervoso de um império de mais de 50 milhões de pessoas e cuja economia estava baseada na agricultura, explicou à Agência Efe uma das curadoras da exposição, Orietta Rossini.

Ao término da Guerra Civil romana, Augusto, o primeiro imperador, impôs um período de pacificação conhecido como a "Pax Augusti" - lembrado no próprio Ara Pacis - entre todos os estados do Império, que se estendia ao redor do "Mare Nostrum" ("Nosso Mar"), ou seja, o Mediterrâneo. Um espaço geográfico que foi palco para a "primeira globalização do consumo" e que representou a chegada a Roma de múltiplos e inovadores produtos, como utensílios para cozinhar alimentos, além de fornos e vasilhas para armazenar cereais e outros bens.

"Em Roma não se comia o pão produzido no campo romano, e nem se consumia o azeite das oliveiras romanas, mas se comia o pão feito com cereais africanos importados por mar e se consumia azeite feito na Espanha e também na África", disse Rossini.

Por isso, ressaltou Rossini, "tudo isso antecipou uma globalização do consumo alimentício", que começou com produtos como o vinho e o azeite de oliva, transportados desde diferentes lugares em vasilhas que também podem ser vistos na mostra.

Os romanos bebiam vinho da Gália, consumiam azeite da atual Andaluzia, se deleitavam com o mel grego e comiam o "garum", um cobiçado molho de peixe fermentado proveniente da África, do Oriente Médio e de Portugal.

Mas no centro de gastronomia romana estava o pão, feito à base de grãos que chegavam do recém-conquistado Egito e do qual ainda podem ser vistos exemplares nesta exposição, como três fogaças calcinadas achadas em Herculano, sepultada junto a Pompeia e outras cidades pela erupção do Vesúvio em 79 d.C.

A mostra explica que todos os produtos chegados nas embarcações desde o outro lado do mar eram recursos necessários para a sobrevivência da população e eram vendidos em seus mercados, pontos econômicos que supunham "um privilégio e um sinal de status para a cidade".

"Era possível imaginar quais eram os problemas para transportar os alimentos e alimentar tantas pessoas em um momento no qual as comunicações eram claramente mais lentas do que são hoje, mas muito mais organizadas", afirmou Rossini.

Um exemplo desta incessante atividade empresarial é a existência, ainda hoje, de um depósito de vasilhas pulverizadas que se amontoam no bairro romano de Testaccio, porto fluvial do Tibre.

A mostra repassa "como foi organizado todo o abastecimento de uma grande metrópole como Roma - "a maior metrópole, a dominante", acrescentou a curadora.

No ano em que a Itália recebe a Exposição Universal, em Milão, focada na agricultura e com o lema "Alimentar o planeta. Energia para a vida", a exposição romana "também se aprofunda nos temas que a Expo desenvolve", comentou Rossini.

"Eles falam da alimentação do planeta, e nós de como foi resolvido o problema de nutrir o império em uma organização política na qual tudo era controlado", disse a curadora.

EFE   
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