Casa das Crioulas: um centro de protagonismo feminino
Manoela Gonçalves dá vez e voz às mulheres na Casa das Crioulas , no bairro de Perus
Um local maior para morar, cuidar e acompanhar os passos do filho Manolo, de 5 anos, se dedicando a ele e ao trabalho, como mãe solteira. Estes eram os sonhos de Manoela Gonçalves, 30 anos, que ao ouvir queixas de outras mulheres em situações semelhantes, se identificou e fez o sonho se estender, dando vida a Casa das Crioulas, um centro de protagonismo feminino, em Perus, zona noroeste de São Paulo, em 2013.
O espaço é reservado às mulheres e à discussão de seu papel na sociedade, no feminismo e em relação à violência sexual e doméstica. Construída em um terreno alugado, a Casa abre de segunda a sábado e conta com dez voluntárias. O financiamento das atividades é feito por bazares, venda de mosaicos e doações.
No início, a Casa das Crioulas funcionava somente como oficina de mosaico e local para atividades educativas para crianças. Com o passar do tempo e maior envolvimento, as mulheres foram sugerindo atividades variadas, como aulas de música, ateliês de costura e artesanato, entre outros.
“Quando chega a casa, a mulher se sente acolhida, na forma como é recebida. Um café, um bolo, um carinho e a chance de falar, de nos identificarmos na dor, pois elas não se manifestam, apesar de viver essa situação. O afeto e o amor vêm de escuta-las, até porque muitas delas vêm aqui apenas para receber um abraço. A casa é pequena, o espaço é grande e os sonhos bem maiores. Se for para atender todas as necessidades da mulher, eu terei de abrir um lar do tamanho de um céu, não de uma família”, brinca Manoela.
Sonhos em família
Depois da maternidade, a fundadora da Casa das Crioulas acalentou um sonho em especial: unir o trabalho aos cuidados e moradia com o filho em um grande espaço. Manoela, sem recursos para tanto, trabalhou em diversas áreas: de jardinagem à assessoria de imprensa, e contou com a ajuda financeira de ex-colegas de trabalho na realização de seu desejo pessoal. “Acreditei que seria um investimento e não exatamente uma doação, porque quem trabalhou comigo sabia da vontade que sentia em ter um espaço maior para mim e meu filho.”
Para o futuro, a ideia é reformar o lado de fora do espaço para montar uma horta, uma loja com venda de produtos naturais feitos por mulheres e um espaço voltado às crianças. “Juntas, nós somos mais fortes e ninguém está sozinha na resolução dos problemas. Falta semear um pouco mais, para que outras aceitem melhor as condições que têm, e não se sintam fracas e sozinhas”, conclui Manoela.